Globo reprisa Malhação – Viva a Diferença que celebra a diversidade e levanta debates importantes

A novela Malhação lançada em 2017 tem como subtítulo “Viva a Diferença“, super apropriado para essa temporada que foi LIN-DA!

Sabe aquele enredo de casalzinho principal que todo mundo quer separar e acontece umas histórias paralelas fracas, mas o foco sempre é o casal? NÃO É O CASO.

Em Malhação – Viva a diferença são cinco protagonistas mulheres extremamente diferentes em classe social, interesses e vivências que se uniram inicialmente por uma gravidez na adolescência, ou melhor, um parto de uma delas no metrô. Um pouco de “fora da realidade” talvez, mas as coisas só melhoraram a partir dali.

A abertura tem como trilha a música Bate a Poeira de Karol Conká (minha música favorita dela, justamente pela letra), trecho:

Seja o que tiver que ser, seja o que quiser ser
Bate a poeira, bate a poeira
Seja o que tiver que ser

O preconceito velado tem o mesmo efeito, mesmo estrago
Raciocínio afetado falar uma coisa e ficar do outro lado

Mas voltando a história, essa fase de Malhação trata delicadamente e com bastante realismo alguns preconceitos e tabus presentes em nossas vidas. Questões como:

Maternidade na adolescência

Um tema recorrente na novela, mas com abordagem diferente. Sempre vemos a menina lidando com a gravidez precoce, mas dessa vez a gravidez durou minutos só no primeiro capítulo, o que a história fala é o que acontece depois que a criança nasce.

Tudo começa com o parto de uma das protagonistas com a ajuda das outras quatro quando estavam sozinhas dentro de um metrô parado. Elas não eram amigas e o ocorrido fez um laço de união entre todas elas. Como lidar com um filho pequeno, a ajuda das amigas, do pai da adolescente e do suposto pai da criança, é um dos assuntos principais da novela.

Racismo

Uma das protagonistas é negra, a Elen, ela estuda em colégio público, é super inteligente, mas têm oportunidades barradas por conta de sua cor e outros conflitos. Seu irmão sofre preconceito por parte da mãe de sua namorada, que não aceita que sua filha o namore. Ele vive como uma figura determinada, apenas por ser negro, com ofensas vindo inclusive de policiais (lembrou Dear White People).

Feminismo

Acontecem muitos diálogos de questionamento do porquê homens tem preferência ou liberdade para fazer algumas coisas e mulheres não. Ou o machismo no próprio relacionamento amoroso.

Relacionamento aberto

Uma das protagonistas namora um garoto, mas ambos tem interesse em outras pessoas apesar de se darem bem e se gostarem muito. Ela propôs abrir o relacionamento e foi tudo ok, parte da novela mostra essa adptação.

Desigualdade social

Os personagem são divididos entre uma escola pública e outra privada, mas com a união das 5 meninas, os dois grupos se juntaram e convivem bem (quase sempre). Cada lado conhecendo a vida e cultura do outro, quebrando barreiras, se posicionando. E acho que vem daí, principalmente, o subtítulo da temporada: VIVA A DIFERENÇA. Mesmo assim, a desigualdade influencia bastante na vida de cada um.

Padrões de beleza

Uma questão forte que aparece é o padrão de magreza. O uso de medicamentos, dietas radicais, exercícios sem orientação para um objetivo final, mas que prejudica muito a saúde e não dá resultado nenhum.

Influência da tecnologia

Elen, a protagonista que já me referi por aqui é um crânio! E lida muito bem com a tecnologia. A trama mostra que a tecnologia pode ser uma grande aliada da educação.

 

Não ter só um casal como protagonista abre um leque de assuntos que podem ser abordados com maior destaque e acho que isso está sendo feito lindamente sem perder a essência da fala com o público jovem.

É a primeira vez que Malhação é ambientada em São Paulo e não no Rio de Janeiro. Essa nova era tem como responsável o autor Cao Hamburguer, responsável pelo Castelo Rá-Tim-Bum, a série Cidade dos Homens e o filme Xingu, por exemplo.

Não sou mais o público alvo do folhetim e talvez você também não seja, mas é bom saber o que a programação mostra pra geração jovem que está aí.

“Se o racismo acabasse hoje, o que você faria?”

E aí?

“Se o racismo acabasse hoje, o que você faria?”

Essa é a pergunta que Gilberto Porcidonio (@_puppet), repórter do Jornal O Globo e ativista social, fez no twitter há alguns dias. Você sabe dizer? Vou compartilhar algumas respostas:

https://twitter.com/redubois/status/1200771087220523008?s=20

https://twitter.com/brendasafra/status/1200435367771553795?s=20

É, o racismo está aí e nos persegue.

Seja na hora de se vestir, na hora de entrar em um estabelecimento ou até mesmo em um simples caminhar pela rua. A gente fala tanto em acismo velado, mas será que é tão velado assim?

Tá mais que na hora da bolha ser estourada e cada um ter empatia e saber o que cada pessoa desse Brasil passa.

“Que personagem é você nessa história que marca os privilégios de uma sociedade preconceituosa, conservadora e moralista?”

Há alguns dias houve uma formatura de jornalismo da PUCRS, uma das grandes amigas da minha irmã estava nessa turma, Michelle Nascimento, e, junto de Daniel Quadros, fizeram um discursos arrebatador que fez com que minha irmã se tocasse e pedisse que eu fosse assistir assim que chegou em casa.

Realmente, aquele discurso me tocou, assim como eu sei que tocará vocês. A Mi gentilmente me compartilhou o texto e agora eu passo a vocês.

Leiam com atenção e coração aberto.

“Me disseram que a essência do jornalismo é contar histórias. Isso mesmo, contar histórias. E eu realmente acredito nessa definição. Podemos perceber isso com o tempo. Desde João do Rio, que em primeiro de junho de 1899, com 17 anos incompletos, teve seu primeiro texto publicado no jornal O Tribunal. Desde que o Golpe Militar no Brasil, em 1964, corrompeu jornalistas, a mídia e a imprensa que silenciaram os horrores da censura e da tortura. Desde que documentos históricos que serviriam como provas para o período da escravidão foram queimados por ordem de Ruy Barbosa. O Primeiro ministro da Fazenda na época da proclamação da República, em 1890, como tentativa de transformar a dor de gerações, em cinzas. Assim como os seus antecedentes e os que vieram depois dele, até os dias de hoje, a história é sempre contada por quem conta.

Mas uma história por si só tem muitos lados, aspectos e implicações. Martin Luther King Júnior tinha um sonho: que seus filhos vivessem um dia em uma nação onde não seriam julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter. Elisa Leonida Zamfirescu quis ser engenheira, e mal sabia ela que no ano de 1973, aos 86 anos, seria umas das primeiras mulheres no mundo a realizar tal feito. Assim como Kathrine Switzer, que no ano de 1967, foi a primeira mulher a participar da famosa Maratona de Boston, enquanto outros membros da organização do evento corriam atrás dela para tentar impedi-la. E tem mais: Harvey Milk, representante distrital de São Francisco, foi o primeiro homem gay assumido a vencer uma eleição nos Estados Unidos, mesmo quando isso não era tão falado, em 1977. E assim como ele, Alan Turing, o matemático e cientista que foi um dos responsáveis pela formalização do conceito de algoritmo, a base da teoria da computação, por volta de 1926, também era gay. Mesmos os mais INVISIBILIZADOS, como as pessoas com deficiência, contaram histórias diferentes. Maria da Penha, mãe de três, levou um tiro de espingarda de seu marido e ficou paraplégica, em 1983. Ao voltar para casa, foi agredida pelo companheiro, que tentou eletrocutá-la no chuveiro. Ela dedicou quase vinte anos de sua vida para que sua história fosse contada da forma correta e não se repetisse, desejando que outras mulheres não passassem por violências em seus lares.

Essas eram as histórias que elas e eles queriam contar à uma nação de pessoas que acreditavam em um futuro melhor, um futuro diferente, um futuro onde cabem todos nós. A gente aqui em cima deste palco, vocês aí na plateia, e todos ao qual o Brasil pertence, e para além dos seus muros e fronteiras.

Mas esse discurso não era sobre jornalismo?

Bem, aí que tá. Jornalismo não é sobre segurar um microfone e brilhar nas televisões, estar no foco dos holofotes ou ter uma coluna social no jornal mais lido da cidade. Não é só isso, pelo menos. Na verdade, isso é o que ele menos é. Ou talvez nem seja.
O jornalismo é sobre a sociedade como um todo, está imerso nela, não fica acima, nem abaixo, mas no reflexo de suas ideologias e valores, crenças e bagagens, motivações e reivindicações. Passamos pelo menos quatro anos na universidade aprendendo sobre a
importância da dedicação do jornalista para transmitir a realidade; a responsabilidade social da profissão para com o público, assim como a sua integridade; o respeito ao interesse público, interesse do público, aos valores universais e à diversidade de culturas; a eliminação da guerra e de outros grandes males que confrontam a humanidade; além da promoção de uma nova ordem mundial, onde o acesso à informação e a comunicação sejam prioridades.
Por isso, apesar de não ser necessário, nós vamos explicar de novo. É nosso
dever, como interlocutores, combater a disseminação de notícias falsas, que na verdade, não são notícias. Defender a democracia, o direito à vida e os direitos humanos. Principalmente quando o nosso atual presidente é contra a atuação de jornalistas, os DESMORALIZANDO com críticas e ataques à liberdade de expressão. Um governo da sequência após um golpe na presidência e uma eleição sustentada por mentiras, em uma batalha a qual o jornalismo QUASE perdeu, o nosso valor se prova cada vez mais necessário.

Hoje estamos nos formando. Mas outra questão importante é que as próximas gerações de jornalistas dependem da atuação das autoridades na defesa de um ensino de qualidade e acessível para todos. No Brasil, as salas de aula estão sendo ameaçadas pelo atual governo do país, que indica cortes de verbas, restrição de bolsas e bloqueios de orçamentos para universidades federais. Em regressos como este, devemos estar ainda mais preparados para amparar uma nação que tem a sua educação comprometida.

Ao sairmos daqui hoje, o mundo lá fora conta com a gente. As minorias em representatividade, mais do que todos, precisam de nós. Inclusive, é engraçado, pra não dizer confuso, ser chamado de minoria, né? Em um país onde 54% da população é negra ou parda, 51% são mulheres, 45 milhões são pessoas com deficiência e pelo menos vinte e duas milhões de pessoas se assumem como LGBTQIs, isso deveria, no mínimo, ser repensado.
É hora de sermos protagonistas das nossas histórias, mas de também assumirmos nossos privilégios. Entre 37 formandos, somos apenas quatro alunos negros. E nos desculpem se falamos demais sobre isso, mas é que negros, são negros todos os dias, perseguidos nos estabelecimentos e impedidos de acessar aquele lugar legal que você gosta de frequentar. E se isso te incomoda, então a gente cumpriu o nosso papel de representar toda essa turma de graduandos que escolheu nos colocar aqui para contar isso à todos vocês.

Enquanto ao olhar para o lado vocês não enxergarem outros negros, pardos e pessoas de todas as cores e origens, mulheres, LGBTQIs, pessoas com deficiências, gordos, magros, e todas as formas de ser em cargos de liderança, nas universidades, na mídia, e onde elas quiserem estar, nós vamos continuar falando.
Então, por favor, nos ajudem a não precisar contar mais essa antiga história.

Se não nós, jornalistas, quem irá reescrever a história do país que mais mata LGBTQIs no mundo?

De qual lado da história você está quando o número de casos de feminicídio aumenta 76% no primeiro trimestre de 2019, no Brasil?

Que personagem é você nessa história que marca os privilégios de uma
sociedade preconceituosa, conservadora e moralista?

O que você diz sobre a história que é escrita quando 64% dos desempregados e presidiários no Brasil são negros? Quando os 54% da nossa população que é formada por negros, são dizimados, sendo que 7 em cada 10 dos homicídios no Brasil, também são com negros e negras? É o caso do Evaldo Rosa dos Santos, cujo carro foi alvejado com 83 tiros em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro. E tem mais: quem mandou matar Marielle?
Ao fim dessa fala, novos profissionais tomam seus postos no vasto mercado que é o jornalismo e a comunicação. Essas meninas e meninos encarando vocês aqui em cima deste palco já estão mudando o mundo, e a história dele.

Cabe a você, caro aliado que está aí atento, decidir se vem com a gente, reescrever a história, ou se continuará contando as mesmas de sempre. A gente já tomou a nossa decisão. Em defesa do jornalismo, da liberdade de expressão, da pluralidade, da educação, e de um Brasil que pertença aos seus, de fato.

Hoje é o fim de um ciclo, e o início de todo o restante de novas vidas. E a gente se encontra por aí, nas nossas novas histórias.
E como dizia Nelson Mandela: A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.
E nós acreditarmos que essa arma deveria ser a única empunhada pela nossa população, e acima de tudo, não deveria ser um privilégio de poucos!
Vamos avante! Obrigado!”

 

Arrepiou aí também?

 

Michele Nascimento (@micheleenasc) & Daniel Quadros (@eudanielquadros)

Sabia que o Dia do Orgulho LGBT tem uma drag negra por trás?

Olá, lindezas!

O Dia do Orgulho LGBT foi ontem (28), mas o mês de junho todo é especial na causa. Mas você conhece a origem da data?

Na manhã do dia 28 de junho de 1969 – há 50 anos – em um bar, em Nova Iorque, frequentadores do bar Stonewall Inn (local frequentado pelo público LGBT) reagiram a pressão policial extremamente violenta, pois já estavam cansados da perseguição constante, principalmente as drags e aos transsexuais. Aquela resistência à polícia durou dias e ficou conhecida por Revolta de Stonewall. No ano seguinte, organizaram a 1ª Parada do Orgulho LGBT no dia 1º de julho para lembrar do ocorrido do ano anterior.

O movimento se espalhou e hoje em dia as Prides (paradas) acontecem em todo mundo em diversas cidades, inclusive no Brasil.

Naquele 28 de junho, duas mulheres estavam a frente do movimento, Marsha P. Johnson – uma negra, queen ‘de rua’ e Sylvia Rivera, uma trans.

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Vamos honrar essas pessoas que lutaram pelo simples fato de serem elas mesmas?

Não tem nada que faça mais sentido do que o amor. 🌈

 

‘História pra ninar gente grande’: Marielle Franco é homenageada em enredo da Mangueira no próximo carnaval

7 meses sem respostas. Quem matou Marielle e Anderson?

A escola carnavalesca Estação Primeira de Mangueira quis chamar atenção para esse caso de assassinato da vereadora Marielle Franco citando o nome dela em seu novo enredo História Pra Ninar Gente Grande, do carnavalesco Leandro Vieira. Eu achei a letra incrível e um real alerta para aquele país que a gente tenta colocar pra “baixo do tapete” sempre que pode.

Um dos compositores do samba, Tomaz Miranda, disse que é em homenagem a memória de Marielle e Anderson Gomes (motorista morto no atentado) e toda luta que ainda virá.

Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo
A mangueira chegou

Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara
Tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasil que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde- e- rosa as multidões